Já ouviu falar em revitimização? Talvez essa palavra seja mais usada por psiquiatras e psicólogos. Porém colocada muito em prática na televisão, nos jornais e na mídia. A revitimização ocorre quando alguém que passou por certo tipo de violência muito impactante é questionado de forma pontual sobre o que sofreu. Dessa forma, essa pessoa é levada a relembrar dos fatos trazendo à tona seu sofrimento e emoções quando passava a situação.
Agora, o que a mídia tem com isso? Alguém se lembra da tragédia de Realengo? Vamos recapitular rapidamente: 12 crianças que foram assassinadas a tiros em uma escola no Rio de Janeiro, no bairro de Realengo, por um ex-aluno. Mais detalhes? Para quê? Já bastam as várias manchetes nas capas de jornais, edições praticamente inteiras nos telejornais, sem contar os programas sensacionalistas que mastigaram esse assunto durante muito tempo e assim também será para a morte de dezenas de jovens em uma boate em Santa Maria/RS.
A mídia, como nos idos tempos da Roma antiga de pão e circo, fez seu cerco na escola e mostrou milimetricamente cada detalhe do caso. Nós que somos apenas espectadores ficamos tristes com a situação, principalmente por conta da repetição dos fatos e imagens. Imagine quem presenciou o ato?
As crianças estavam apavoradas, os pais em desespero para saber o que tinha ocorrido com seus filhos. De uma hora para outra, pessoas comuns viram notícia. Os jornalistas ávidos por informações começaram a entrevistar quem estava por perto, nos arredores da escola. Mas aí, a falha: entrevistar as crianças que estavam dentro da instituição de ensino.
O dever dos jornalistas é informar, mas até que ponto? Esses alunos tinham acabado presenciar um ato terrível, viram amigos serem mortos e quase morreram. Estavam em choque. Chega um repórter (que está representando a ação da mídia) e pergunta: “O que foi que aconteceu lá dentro?”, “Como ele agia?”, “Como você se sentiu?”. Questionamentos, principalmente a última pergunta, impertinentes para uma pessoa que praticamente teve sua vida violada. A criança responde e acaba sendo REVITIMIZADA.
Essa é uma situação muito complexa. Qual será o limite da linha tênue entre a notícia e a notícia sensacionalista? Vale a pena refletir.
Laiz Marinho.
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