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A Perseguição


 Ao refletir da luz nos olhos, no início da manhã, o pensamento dispara: “Aí, meu Deus mais um dia de aula! Que vontade de faltar e nunca mais por os pés naquela maldita escola!”. A mãe grita: “Tá na hora de levantar, não quero atraso”.

Dentro de sua mente a resposta é não, mas ela sabe que é obrigada a ir. A cada passo que é dado até a chegar à escola, o coração dispara mais, as mãos começam a suar e o nervosismo toma conta. Naquele dia, mais um motivo para aborrecimento. No rosto está carregando um acessório novo, com aros e duas pernas: os óculos de grau.

Ao chegar atrasada à escola, acaba chamando mais atenção. Dentro da sala, os sorrisos maldosos se abrem e a primeira palavra que se ouve não é um bom dia e sim “agora também é quatro olhos”. Enfim, o dia ia ser longo.

O que foi relatado acima acontece todos os dias na mais variadas salas de aula do mundo. Esse fenômeno é conhecido como bullying.  Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva em seu livro sobre o assunto (Mentes perigosas nas escolas – Bullying), a palavra é de língua inglesa, que significa a união de atitudes repetitivas de um ou mais alunos com o objetivo de ofender, maltratar e humilhar, sem motivo aparente outra que é mais vulnerável ou tímida.

No Brasil, até pouco tempo esse termo não era muito conhecido. No país, de acordo com a Associação Brasileira de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), a primeira pesquisa sobre o assunto ocorreu, entre 2002 e 2003, na cidade do Rio de Janeiro.

No levantamento, participaram 5.428 alunos com idade média de 13,47 anos, de 11 escolas do Rio, sendo nove municipais e duas particulares. Foi constatado que 23% sofreram bullying durante a pesquisa, 15% admitiram que foram  humilhados várias vezes por semana, 60% afirmaram serem ofendidos dentro da sala de aula. As agressões mais frequentes são apelidar (54%), agredir (16,1%), difamar (11,8%), ameaçar (8,5%) e pegar pertences (4,7%).

Todos são vítimas nesse processo, sejam os que sofrem ou aqueles que agridem. Essas atitudes são reflexos da nossa sociedade, pois estabelece os padrões de beleza, vivência, moda e outros. Dessa forma, quem não se enquadra é taxado de esquisito, mal vestido, feio e tímido. Isso fica ainda mais aflorado na adolescência, época de mudanças.

As instituições de ensino, os professores e os familiares são peça fundamental nesse processo de choque de ideias e aparências. O problema, é que durante muito tempo o bullying foi considerado como “brincadeirinhas bobas”.
Essas brincadeiras de mau gosto acontecem também de dentro de casa. Os próprios pais ou parentes apelidam de forma pejorativa as crianças.  Comentário do tipo “nossa, mas esse menino é um bicho do mato”,  e outros são comuns dentro do ambiente familiar.

Só que essa “bobagem” interrompeu vidas. Suicídios e mais recentemente mortes em massa dentro de escolas.  Sem contar as interrupções em vida, quando a pessoa fica sem perspectiva de crescimento, não acredita em si e morre moralmente.

Todo o cuidado é pouco, os humanos são seres complexos, as reações podem ser diversas em relação aobullying. O ditado é velho, mas serve para essa situação: “É melhor prevenir do que remediar”.

Como remediar a dor de quem perdeu um filho que se suicidou ou foi assassinado por esse motivo? De alguém que estaciona em um ponto da vida e não consegue superar as feridas do passado? Difícil, porém é a realidade e temos que lutar contra esse ato, que querendo ou não pode nos perseguir durante o resto de nossas vidas.

Laiz Marinho.

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